8/27/2023

Fotosincrese

 A Luz.


As estrelas ainda regem o cerne do nosso descaso infantil, que perdura até o sempre desde a última vez que a vi na caverna estreita e sinuosa da minha famigerada casa. Ela é perfeita. É aquário e sou todos os peixes nela mesmo sendo gêmeos. 


A Luz.


Ela ressoa ainda dentro das minhas vontades de não estar apaixonado, mesmo estando inebriadamente cauteloso por não querer perder de vez o feixe estonteante do nosso convívio.


Andaluz. 


Sou cão na constelação de Buñel semi-enforcado debaixo da torre Eiffel, surrealisticamente tentando não parecer fraco por já ter sido envenenado pelo retorno da tua presença, que invade os oito buracos da minha cabeça.


A

L

U

Z

.

.

.


Nem toda poesia já escrita consegue explicar o que me assola quando recebo de ti um pingo de desejo desdenhado, uma simples curva desenhada na imensidão da reta que poderíamos ter seguido. E teu corpo é esguio. É lacerante, latente querer sem precisar nem estar.


Foi meio que de relance e imensurável das últimas vezes que senti tua aura no mesmo lugar que eu estivera. Cada toque me transformava numa quimera sem sufixo, sem base alguma do que fazer.


Não sei que espécie de ser fantasioso me tornara, mas sei qual divindade és, qual mitologia roubaste para ti. 


Sei que mistura seríamos: o toque do concreto volátil com o etéreo tátil, do impossível com o insubstituível prazer domado. Amizade carnal e entendimento visceral, raro privilégio humano, semiologicamente imperceptível, longe de qualquer cura ou doença já catalogada. Seríamos uma espécie de língua extinta, um extintor apaziguando uma chama fria. E tu me chamarias novamente para o eterno despertar.


Se não for assim, por onde andarei?




Lua.


Estrada crua, 


Pararás no céu, impetuosa vontade nua? 


Não vou parar. Vou deixar claro que sou eu quem vai te fazer superar todos esses anos de erros e tragédias pífias. Relacionamentos sangrentos, mortes prematuras, sangrias sem firmamento.


Não há paz sem ti.


Não há o mais,

Sem dividir,

Sem multiplicar,

Para nos subtrair. 


Luz.


Seremos luz sem corrente elétrica. 

Serpente hermética em tesa kundalini, círculo plasmático no nosso futuro inexistente leito, circuito somático de orgasmos secretos, seremos blindados, à prova de fardos. 

Eu serei o alvo e tu os dardos, pronta para me furar. 

E preciso que me fure, que me faça fraco, que me arranque o sacro para ritualizar.

Pois aqui estou. 

Eu, falha pra quem de longe me vê. 

Eu, erro pra quem perto me quis. 

Eu, amigo, até tu desistir. 

Até que me recolhas em ti. 


Nessa prosa que nada rega…


Nesse tesão que não enxergas…


Nessa certeza que me negas…


Mas


            

         L                     

                                           U

                                                                         Z…



A Luz não pesa. A ciência erra em definir. A Luz atravessa, rasga, dilacera, sangra, tinge, macula, machuca, cura, decepa, escalpela, pra depois cicatrizar. És Luz em mim, pra mim, e por ti, não canso de tentar. Por mim, não morro sem teu fôlego tirar.

Nenhum comentário:

 
Creative Commons License
algo magico by Carlos Emilio Silva Costa is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://naocreio.blogger.com.br.