lá no fundo de mim
lá onde o juízo entorta
há batalha secreta
há guerra silenciosa
lá,
governa o rei etéreo
dono das palavras mortas
inimigo da sorte
cruel, depredador,
assola ao seu próprio reino
negativa eterna da vida
criador do pus em toda ferida
se esbalda e depreda minha carne viva
destilando pura cicuta
investida interna sem saída
há anos,
desde que me conheço por indigente
desde quando tinha riso nos dentes
carrego o peso do naufrágio iminente
sufrágio meu sem saber de onde
nem como ser diferente
baldrame dos muros do caráter
em pleno deserto intrínseco
no qual se finda intangível castelo
da majestade abissal
tenho ele como um demônio de estimação
que se alimenta da falta do autocuidado
e mata sua sede no vício incansável
mas é só em mim que ele permeia
é só aqui, que jaz a sua ceia
é só aqui em mim, por quem não tenho pena.
e agora
lá também há
uma novidade
novo paradoxo
enraizando no saibro
estendido e crescendo pros lados
pra fazer plectro contrário
inspirando
aspirando em mim esteios
virando rocha opositora
ao imperador do não-me-amar
eu sei, são apenas devaneios
essa peleja,
esse confronto aqui dentro
se resolverá
pois o amor é maior
o amor ganha
mesmo sem saber
o amor passa por cima de qualquer fortaleza
o amor faz barco submerso velejar
faz trovejar sem sinal de nuvem
me faz bravejar:
cresça em mim,
meu auto-amar,
VEM!
Um comentário:
Sem palavras.
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