6/13/2023

Batalha naval no deserto do Auto-amar

lá no fundo de mim
lá onde o juízo entorta
há batalha secreta 
há guerra silenciosa

lá, 
governa o rei etéreo 
dono das palavras mortas 
inimigo da sorte 
cruel, depredador,
assola ao seu próprio reino 
negativa eterna da vida 
criador do pus em toda ferida
se esbalda e depreda minha carne viva 
destilando pura cicuta 
investida interna sem saída

há anos,
desde que me conheço por indigente 
desde quando tinha riso nos dentes 
carrego o peso do naufrágio iminente
sufrágio meu sem saber de onde 
nem como ser diferente
baldrame dos muros do caráter
em pleno deserto intrínseco 
no qual se finda intangível castelo
da majestade abissal

tenho ele como um demônio de estimação
que se alimenta da falta do autocuidado 
e mata sua sede no vício incansável

mas é só em mim que ele permeia
é só aqui, que jaz a sua ceia
é só aqui em mim, por quem não tenho pena.

e agora
lá também há
uma novidade 
novo paradoxo
enraizando no saibro
estendido e crescendo pros lados
pra fazer plectro contrário
inspirando
aspirando em mim esteios
virando rocha opositora 
ao imperador do não-me-amar

eu sei, são apenas devaneios
essa peleja,
esse confronto aqui dentro
se resolverá
pois o amor é maior
o amor ganha
mesmo sem saber
o amor passa por cima de qualquer fortaleza
o amor faz barco submerso velejar
faz trovejar sem sinal de nuvem
me faz bravejar:
cresça em mim,
meu auto-amar, 
VEM!

Um comentário:

Anônimo disse...

Sem palavras.

 
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