11/09/2008

vida

eu vos escrevo completamente lucido,
dopado unicamente pela maior droga, a vida.

a vida é o vento arrastando uma folha no asfalto,
uma pegada canina no cimento seco,
uma puta sendo comida por trás, de salto alto.
a vida é um atestado de óbito,
anexo a uma certidão de nascimento,
um bóia-fria tomando umas biritas no bar do seu Luizão,
um soco de ilusão, um golpe fantasmagórico,
enquanto é só o sol quem fantasmagoriza a pele nua.

essa droga que vos descrevo é essa leitura,
essa força que move a mão que levanta o isqueiro e acende o cigarro.
o vício único é acordar todos os dias,
sempre às 6:30,
usar o shampoo com a mão cheia,
shampoo que mais parece uma tinta,
um óleo de peroba parabolicamente perolado,
escovar os dentes com pasta de couro de burra,
se olhar no espelho e ver o quão a dita droga o destrói.

já tentei renunciar,
me matar, me jogar de uma ponte, os pulsos cortar,
mas a crise de abstinência, do acordar,
me fez hesitar, me fez ter receio de não saber amar.

Um comentário:

Unknown disse...

Esse blog é talento puro! transpira..
Cazi, O grande poeta da fudida pós-modernidade.

 
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