10/01/2008

mentir

minto porque sou a mentira
análogo ao mundo, me despedaço
retraço as palavras por mim criadas
vejo que para mim sempre foram verdade
uma verdade vertiginosa, uma doença, um cataclismo ambulante

sou a negação da negação negada
um laço com o irreal infundado
uma reta na dimensão imaginada

toda hora que acordo,
sou uma nova mentira
um sopro de ação-nunca-fato-sempre-pensado

me lembro como se fosse hoje
da vez que menti um bocado
da vez que falei a verdade para o meu eu-mim enquanto os fonemas eram completamente arrastados, soletrados inventados, numa profundidade tão longa que me parecera verdade

minto que sou todos os poetas
que eles me fazem assim
quando, no mais, dou deles uma ponta,
um dedo do que digo

odeio a verdade porque ela é o meu contrário
tenho asco dos embasamentos verossímeis
das verdades lançadas feito guia de sobrevivência

minto porque só assim sei o que vivo
já que a verdade me estraga
prefiro mentir, me confundir e aos outros desnortear

a unica coisa que não consigo afirmar
é que eu vejo o que não quero
pois sou a negação dos atos,
que nunca foram aptos a serem

minto porque a verdade é imunda,
como um ralo que filtra.

2 comentários:

Anônimo disse...

esse um dos melhores até agora...
nessas mentiras foram ditas muitas verdades.

Anônimo disse...

tu é poeta, feladaputz?

 
Creative Commons License
algo magico by Carlos Emilio Silva Costa is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://naocreio.blogger.com.br.